quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Hábitos e Ciclo de Vida da Jubarte

A baleia jubarte é uma espécie cosmopolita, habitando todos os oceanos. Assim como algumas outras espécies de baleias, a jubarte realiza uma migração anual. Durante o verão ela se dirige para as águas polares para se alimentar e durante o inverno migra para águas tropicais e subtropicais para acasalar e dar à luz seus filhotes. Assim, no hemisfério sul as jubartes chegam por volta de junho/julho e permanecem até novembro/dezembro, quando retornam para as áreas de alimentação. As áreas de reprodução da espécie são tipicamente próximas a ilhas ou continentes e/ou associadas a ambientes coralíneos. A espécie se reproduz ao longo da costa nordeste do Brasil e o Banco dos Abrolhos, é o maior berço reprodutivo do atlântico sul.

Para conhecer melhor seu ciclo de vida vamos imaginar como seria a vida de uma jubarte. Estamos em agosto, próximo ao arquipélago dos Abrolhos. Após onze ou doze meses de gestação uma fêmea entra em trabalho de parto. É o começo da madrugada e os primeiros raios de sol começam a penetrar na superfície do mar. A baleia começa a ter contrações e na fenda genital aparece a primeira porção do filhote. Em outras espécies de cetáceos em que foi acompanhado o parto, a cauda do filhote aparece primeiro, ao contrário do que é observado em outros mamíferos. Isto ocorre porque até a ocasião do nascimento o aporte de oxigênio do filhote é repassado através do cordão umbilical, mas neste momento o cordão se rompe e o recém-nascido precisa chegar rapidamente à superfície para respirar pela primeira vez. É possível que sua mãe nade sob ele e o apóie em suas costas ajudando-o a subir à superfície, onde ele então infla seus pulmões pela primeira vez. Sua pele é cinza claro e sua nadadeira dorsal ainda é mole e dobrada para facilitar o nascimento. Embora as jubartes possam ter filhotes em anos consecutivos, em geral o intervalo entre os nascimento é de 2 a 3 anos; sempre nasce um único filhote, já medindo cerca de 4 a 4,5 metros de comprimento e pesando por volta de 800 a 1000 Kg.

Após nadar e respirar o filhote irá mergulhar para mamar pela primeira vez. O leite das baleias possui um alto teor de gordura, cerca de 40%, que irá fornecer a energia necessária para o crescimento do filhote. Durante a amamentação, os pesquisadores freqüentemente observam a fêmea com o corpo em posição vertical, com a cabeça voltada para o fundo do mar e a nadadeira caudal exposta acima da superfície. Supõe-se que desta forma as glândulas mamárias permanecem mais próximas da superfície, permitindo que o filhote suba para respirar com maior facilidade.

Os próximos meses serão críticos para a sobrevivência do filhote, quando ele estará mais sujeito ao ataque de predadores como tubarões, poderá ficar emalhado em redes de pesca ou, caso se perca de sua mãe, poderá morrer por inanição. Por isso as baleias jubarte permanecem o tempo todo ao lado de seus filhotes, mantendo um contato corporal intenso neste período. Se algum barco se aproximar a fêmea mantém seu corpo entre o filhote e a embarcação, como forma de protegê-lo.

Enquanto fêmeas sem filhote e machos adultos iniciaram a migração primeiro para as áreas de alimentação, esta fêmea irá esperar o final da temporada até que seu filhote tenha crescido e desenvolvido uma camada de gordura que permita que ele acompanhe sua mãe em uma viagem de mais de 4.000 km até as águas geladas nas proximidades das ilhas Sanduíche do Sul e Geórgia do Sul, locais onde baleias de Abrolhos já foram avistadas. Esta viagem poderá se iniciar em dezembro e durar cerca de dois meses.

Por volta dos seis a dez meses de vida o filhote irá desmamar. Neste período é provável que ele intercale o consumo do leite materno com a captura de krill, um pequeno crustáceo semelhante ao camarão que ocorre em abundância nos mares polares durante os meses de verão. O filhote irá aprender com sua mãe as técnicas para capturar o alimento. É importante que tanto a mãe como seu filhote consigam ingerir uma grande quantidade de krill. As jubartes só se alimentam durante o verão e precisam acumular energia na forma de gordura. Esta reserva energética permite que suportem um jejum de alguns meses durante a temporada em águas tropicais – onde não existe krill. Após este período, o filhote fará com a mãe sua primeira migração de retorno ao local onde nasceu.

Com o fim do verão e a proximidade do inverno a baleia e seu filhote iniciaram a longa viagem de volta. Ao chegarem de volta ao Brasil o filhote, já independente e tendo aprendido a rota de migração, poderá permanecer mais algum tempo junto de sua mãe ou separar-se dela, passando a interagir com outros grupos. Nesta fase terá aproximadamente 8 a 9 metros de comprimento. Embora independente, ainda não estará completamente desenvolvido. Ele irá realizar ainda 4 ou 5 migrações completas antes de atingir sua maturidade sexual por volta dos quatro ou seis anos de idade, quando medirá de 11,6 a 12 metros de comprimento. As fêmeas dão à luz pela primeira vez por volta dos seis anos de idade, fazendo nascer uma nova geração e repetindo mais uma vez um ciclo que vem ocorrendo na Terra desde muito antes da existência da Humanidade.

Biologia e Anatomia da Baleia Jubarte

Conhecida também como baleia corcunda, a baleia-jubarte é chamada pelos cientistas de Megaptera novaeangliae. Quando uma jubarte salta, rompendo a tranqüilidade das águas, é um espetáculo impressionante. Elevando seu corpo quase completamente fora d’água, por alguns segundos ela parece querer vencer a gravidade e alçar vôo. Neste momento suas longas nadadeiras peitorais, que chegam a medir até 1/3 de seu comprimento, poderiam ser comparáveis às asas de um pássaro. Esta é a origem do nome Megaptera que em grego antigo significa “grandes asas”. Quem observa uma jubarte saltando fica fascinado com a beleza do espetáculo, mas com certeza ficaria ainda mais impressionado ao descobrir que aquele corpo que se projeta no ar pode pesar de 35 a 40 toneladas e medir cerca de 16 metros de comprimento.

Embora seja única em seu gênero, a jubarte pertence à mesma família de outras baleias que possuem pregas ventrais. Uma baleia com pregas ventrais é chamada de rorqual. Todos os rorquais pertencem à família dos balenopterídeos.

Muito da dificuldade de se estudar as baleias vem do fato de que estes animais passam a maior parte do tempo com seu corpo submerso, longe de nossos olhares. Se estivermos mergulhando e tivermos a sorte de uma jubarte se aproximar poderemos observá-la por inteiro. Ao observarmos uma jubarte com atenção percebemos que sua cabeça é ligeiramente achatada e possui no seu topo uma série de calombos ou nódulos, com minúsculos pêlos aderidos a eles. Ainda não se conhece qual a função destes pêlos mas supõe-se que tenham uma função sensorial. Também chama a atenção a boca, bastante longa e arqueada.

Iniciando-se no queixo e se estendendo pelo abdômen até a região do umbigo é encontrada uma série de pregas de coloração branca, denominadas pregas ventrais. Seu número pode variar de 14 a 35 e funcionam como o fole de um acordeon expandindo quando o animal se alimenta (à semelhança do papo do pelicano) e contraindo quando ele expulsa a água para fora da boca. Para filtrar o alimento da água do mar esta baleia utiliza uma série de placas que descem do céu da boca e formam como que uma cortina por onde a água consegue passar e o alimento fica retido. Estas placas são chamadas de barbatanas e são formadas de queratina, a mesma substância que forma nossa unhas. Próximo ao canto da boca estão localizados os olhos, que possuem boa capacidade visual tanto dentro como fora d’água.

As baleias não possuem orelhas, pois isto atrapalharia seu formato hidrodinâmico, mas elas possuem ouvidos. A abertura do ouvido externo é um minúsculo orifício, muito difícil de ser observado e que fica cerca de 30 cm atrás dos olhos.

Observando a baleia de cima é possível perceber, no topo de sua cabeça um pouco adiante dos olhos, seu orifício respiratório. Ele é o equivalente de nossas narinas, e permanecem fechados durante todo o tempo em que o animal está submerso. Quando ele se aproxima da superfície este duplo orifício se abre e o ar é expelido com força pelos pulmões.

O tórax é protegido por 14 pares de costelas e abriga o coração e os pulmões. Olhando para a região torácica observamos duas longas nadadeiras peitorais, que numa jubarte adulta podem medir mais de cinco metros de comprimento. A borda anterior da nadadeira peitoral é bastante ondulada, sua face ventral é branca enquanto a face dorsal em geral possui uma mistura de padrões de preto e branco. As nadadeiras peitorais em geral servem para ajudar a direcionar o movimento das baleias e golfinhos quando estes nadam, auxiliando na manutenção do equilíbrio. Estas nadadeiras não são eficientes, entretanto, para proporcionar impulsão ao animal.

Continuando em direção à cauda, se olharmos no dorso da jubarte veremos uma pequena nadadeira dorsal, localizada sobre uma ligeira corcova. Quando a jubarte mergulha costuma arquear a região da nadadeira dorsal, deixando esta corcova mais saliente. Desta característica deriva seu nome em inglês, humpback whale, ou baleia corcunda. Esta nadadeira dorsal possui um formato ligeiramente diferente para cada indivíduo. Em algumas jubartes ela é mais arredondada e em outras ela pode apresentar um formato semelhante a uma foice (falcada).

Logo após a nadadeira dorsal inicia-se a região conhecida como pedúnculo caudal, uma grande e poderosa região muscular que, juntamente com a nadadeira caudal, é responsável por permitir a natação e a realização dos espetaculares saltos da jubarte. É a batida da nadadeira caudal que permite às baleias se deslocarem. Numa jubarte adulta a nadadeira caudal pode medir mais de 5 metros de largura. Sua borda é serrilhada e na face ventral a coloração pode ir desde quase completamente branca até totalmente escura, apresentando cada animal um padrão de manchas e riscos diferentes. É justamente o fato de cada uma possuir um desenho único na nadadeira caudal que permite que cada baleia jubarte possa ser identificada como um indivíduo através das fotografias desta região. Podemos dizer então que a nadadeira caudal da jubarte constitui o equivalente das impressões digitais dos humanos.

Uma dúvida freqüente é como saber se uma baleia que está sendo observada é um macho ou uma fêmea... Vista da superfície, esta diferenciação é quase impossível para a baleia jubarte. Se tivermos a chance de olhar a região ventral da jubarte embaixo d’água poderemos observar que próximo ao pedúnculo caudal existe uma fenda conhecida como fenda genital e que abriga os órgãos reprodutivos dos cetáceos. Esta foi mais uma adaptação para reduzir o atrito e permitir que a baleia deslize melhor na água. Durante o acasalamento, o macho expõe seu pênis para fora da fenda genital e procura introduzi-lo na fenda da fêmea. Existem pequenas diferenças entre machos e fêmeas: enquanto nas fêmeas a fenda genital fica deslocada em direção à nadadeira caudal, bem próxima à abertura do ânus, nos machos a fenda está deslocada em direção ao abdômen, próxima à cicatriz do umbigo, onde terminam as pregas ventrais. A única outra diferença anatômica externamente visível entre machos e fêmeas é a presença de um lobo hemisférico na região urogenital das fêmeas localizada logo após a porção posterior da fenda genital. Paralelas à fenda genital existem duas pequenas fendas onde estão localizadas as glândulas mamárias.
A pele da jubarte é relativamente fina, para um animal de seu tamanho, possuindo menos de 1 cm de espessura. Na região dorsal a pele é de coloração preta, enquanto na região abdominal é variável, sendo preta em algumas regiões e branca em outras. Aderidas na superfície da epiderme podemos encontrar as cracas, organismos marinhos que produzem carapaças para se proteger e que crescem sobre as baleias assim como no casco de navios. As cracas não são parasitas, elas apenas “pegam carona” nas baleias, mas suas carapaças às vezes são afiadas e podem ter um papel importante nas disputas dos machos pelas fêmeas.

Embora a pele seja bastante fina, as baleias possuem logo abaixo uma espessa camada de gordura que serve como um isolante para protegê-las do frio das águas e como uma reserva de energia. A espessura da camada de gordura varia nas diferentes espécies de baleias e também em função da época do ano. Numa baleia jubarte esta camada pode medir mais de 15 cm de espessura.
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Fonte: www.baleiajubarte.org.br